quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Padre António Vieira



Portugal e Brasil relembram Padre António Vieira
Pensador e religioso nasceu há 400 anos
Assinalam-se hoje os 400 anos do nascimento do Padre António Vieira. Jesuíta, missionário e diplomata, ficou na História portuguesa e brasileira como um grande prosador e defensor dos direitos humanos.


António Vieira nasce em Lisboa a 6 de Fevereiro de 1608, numa casa humilde na Rua do Cónego, perto da Sé. O pai, Cristóvão Vieira Ravasco, serve a Marinha e, durante dois anos, é escrivão da Inquisição. Nomeado secretário do governo da Baía, muda-se para o Brasil em 1609 e, em 1614, leva a família para o Brasil.

Inicialmente mau aluno, António estuda na única escola da Baía, o Colégio dos Jesuítas, em Salvador. Cedo demonstra, no entanto, um inato talento, que os jesuítas tentam canalizar para a vida religiosa. Com voto de noviço, junta-se em 1923 à Companhia de Jesus. Um ano depois, aquando da invasão holandesa de Salvador, refugia-se no sertão como missionário. Toma os votos de castidade, pobreza e obediência.

Aos 30 anos, é nomeado mestre de Teologia. Professor de Retórica, prega pela primeira vez em 1933. Um ano depois, é ordenado sacerdote. Mestre em Artes, exerce a função de pregador, sendo a partir de 1638 que pronuncia alguns dos seus mais notáveis sermões. Aquando da segunda invasão holandesa do Nordeste brasileiro, Vieira defende que Portugal entregue a região aos Países Baixos. Com a restauração da independência, Vieira regressa a Portugal, integrando a missão de fidelidade ao novo monarca. Torna-se amigo e confidente de D. João IV. Declarando-se favorável aos cristãos novos, apresenta um plano de recuperação económica e entra em conflito com a Inquisição.

Eloquente orador, é nomeado pregador régio. Como diplomata, vai a França e à Holanda, para negociar com os Países Baixos a devolução do Nordeste brasileiro. Em 1649, é ameaçado de expulsão da Ordem dos Jesuítas, mas D. João IV opõe-se. Defensor da liberdade dos índios, regressa ao Brasil em 1652, como missionário no Maranhão. Em 1661 é, no entanto, expulso pelos colonos. Volta à Europa com a morte de D. João IV, tornando-se confidente da regente, Dª. Luísa de Gusmão. Indesejado na Corte, perde porém o apoio com a morte de D. Afonso VI. É acusado de heresia pela Inquisição, que não vê com bons olhos a sua teoria do Quinto Império, segundo a qual Portugal estaria predestinado a ser a cabeça de um grande império do futuro. Expulso de Lisboa, é desterrado e mandado para o Porto e depois para Coimbra. Os jesuítas vão perdendo privilégios.

Em 1667, é condenado a internamento e proibido de pregar, mas a pena é anulada seis meses depois. Durante a regência de D. Pedro, recupera apoios poderosos. Vai a Roma para a canonização de 40 jesuítas presos nas Canárias e martirizados pelos protestantes em 1570 – mas também para tentar que Santa Sé anule a sentença condenatória do Santo Ofício. Vieira é, porém, humilhado e injustiçado.

Anos mais tarde, regressa a Roma, onde vive, renovando a luta a Inquisição e alcançando enorme prestígio, com a sua eloquência. Fascina a Cúria com os seus sermões. O Papa isenta o Padre "perpetuamente da jurisdição inquisitorial”. Vieira regressa a Portugal mas, com o agravamento da sua saúde frágil, parte para o Brasil, em busca de melhor clima. É lá que se dedica à tarefa de compilar e conclusão dos seus escritos.

As suas obras são publicadas na Europa, elogiadas pela Inquisição. Velho e doente, deixa de pregar. Em 1694, não consegue escrever de próprio punho. Morre em Julho de 1697, com 89 anos, em Salvador. Tido como o maior prosador da língua portuguesa, o "Imperador da Língua Portuguesa", como lhe chamou Fernando Pessoa deixa uma vasta obra literária e a lembrança de uma personalidade exuberante e rigorosa. Entre os mais famosos sermões, destacam-se o "Sermão da Quinta Dominga da Quaresma", o "Sermão da Sexagésima", o "Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda", o "Sermão do Bom Ladrão", o "Sermão de Santo António aos Peixes”.

Catarina van der Kellen
Jornalista

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